segunda-feira, 3 de outubro de 2011

o pára-brisa ou uma tela impressionista





Parada no posto pra pegar umas cervejas e salgadinhos, a noite era longa e estava só começando:
- Amigo, dá uma olhada na água e no óleo “fazfavô”! Vem gata, desce um pouco, estica as pernas.
Mais um segundo pra trocar o CD (Não agüento mais essa porra de sertanejo universitário!), olhei no porta-luvas e nada, ergui a cabeça.
O choque:
Estava lá, o monstro em que só reparava mesmo nas telas da TV durante o noticiário, ou através do notebook novinho em folha, participando de campanhazinha no “Face”.
Vestido de miséria, trazendo sobre as costas toda a dor do mundo, enjambrada em sacos de lixo. Catando papel.
Quem sabe no meio de tantos papéis, aparecesse escrita uma palavra de conforto, uma palavra de carinho, em vez dos narizes torcidos e dos olhos desviantes de quem nunca passou fome, de quem só viu a pobreza de longe.
E que olhos de dor tão profunda, tão doída. Um medo de descer do carro e não ter pra onde voltar.
Como ele foi parar lá? Brotou do asfalto e foi de imediato lançado á calçada?
Pedinte, marginal, trombadinha...e aqueles olhos tão impiedosos, encarando a boba que se impressiona com a vida real.
De onde ele veio? Para onde ele vai?
-Ah! (Ai! Me dá um chocolate que eu preciso pensar em outra coisa agora. A vida segue.)
Me passa a cerveja.

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